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Corpo-Território: Grandes Mulheres Presentes

CORPO-TERRITÓRIO:
GRANDES MULHERES PRESENTES
Intervenção urbana de Lambe-lambe que destaca a presença da mulher nas ruas de Recife​​​​​​​
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7 GRANDES MULHERES NA CIDADE
Mirão - 
Mirtes - Marielle Franco - Elza Soares - Cátia de França - Conceição Evaristo - Carolina Maria de Jesus
Este é um projeto de intervenção urbana desenvolvido com o uso da técnica do lambe-lambe em média/grande escala, sendo pensado a partir da necessidade de gerar impacto visual e intervir na cidade e nos espaços públicos, que são propensos ao assédio e a violência contra a mulher. As mulheres mais atingidas diretamente são as trabalhadoras que transitam diariamente pela cidade caminhando, no transporte público ou na bicicleta. O espaço geográfico que nosso corpo ocupa irá influenciar em nossos deslocamentos e trajetos, segundo pesquisas do Instituto Patrícia Galvão (ver referências).

Ao todo são 7 painéis de lambe-lambe em média/grande escala, com figuras de 7 Grandes Mulheres, no intuito de oferecer a Presença destas mulheres à outras que transitam pela cidade e, através da memória, resgatar a força da luta que elas representam! Os pontos de colagem dos lambe-lambes foram pensados a partir de pesquisas sobre violências contra a mulher na cidade, locais de grande e pouca circulação de pessoas e aqueles esquecidos pelo poder público, como Terminais de Ônibus, Mercados Públicos, Feiras populares e Estações de Metrô.

[
Que mulher você gostaria que te acompanhasse numa rua deserta
?
Que caminhos deixamos de caminhar por causa do medo?
Como comportam-se os corpos das mulheres que transitam pela cidade diariamente?
]

Somos completamente esquecidas pelo poder público: as Ruas e as Mulheres, pois o que não tem voz, não tem demanda. Assim sucateiam-se os espaços e centros de cultura dos bairros e cidade, no intuito de serem esquecidos e vendidos à iniciativa privada às escuras. O poder público foge da responsabilidade de lidar com as questões-sociais que são mudanças-chave que a maioria da sociedade precisa: creches e escolas funcionais, centros de cultura e lazer ativos nas favelas, saneamento básico de qualidade, direito à moradia popular digna, ações feministas, negras e lgbts, entre outras pautas.

Isto nos faz questionar: Por Quem e Para Quem a cidade é construída? Apenas os homens caminham por todos os lugares em qualquer horário? Por que as mulheres precisam lidar com a tripla jornada de precaução nos deslocamentos diários?

Aqui, objetivo principal é fortalecer a presença da mulher no espaço público, na intenção de resgatar nosso Direito de Ir e Vir com o respeito aos nossos corpos e dignidade às nossas vidas. Além disso, denunciar a forma como a cidade é construída, ou seja, não-inclusiva e violenta; denunciar a falta de responsabilidade ativa dos homens que violam os corpos das mulheres ou que são coniventes; barrar e dificultar assédios sobre as mulheres transeuntes.

Este projeto é dedicado à todas as mulheres que me atravessam.
    MIRÃO    
Várzea
Rua João Francisco Lisboa, em frente à praça do Rosário, Várzea
AMO
COMO
QUEM
NÃO
TEME
(frase tatuada no braço direito de Mirão)
Mirão.
Agroecóloga, Idealizadora da Empório Das Rosas.
Ativista por Moradia Digna Popular, Soberania e Segurança Alimentar, Direito das Mulheres, Veganismo Popular e Causa Animal.

Mirão viveu grande parte de sua vida nas palafitas de Brasília Teimosa, junto a seu companheiro e suas/seus 4 filhas/os, sendo uma das primeiras famílias a construir o bairro! Desde então ela vivenciou o abandono do poder público acerca da moradia digna e também sobre a soberania alimentar, em meio a falta de alimento que a rodeava. Na época, conseguiram pleitear o acesso à moradia popular e receberam o apartamento no Conjunto Habitacional do Cordeiro, onde passaram a viver. Com grande coragem, intensa criatividade e mão cheia, Mirão e suas/seus filhas/os dão início ao projeto de alimentação vegana, a Empório das Rosas, que perdurou por muitos anos, onde vendiam almoços, lanches, doces, salgados, sushi vegano e outras intervenções alimentares, percorrendo desde a xêpa na Ceasa, bairros, feiras, universidades públicas, eventos culturais recifenses a manifestações sociais com muito trabalho e sabedoria ancestral.
Ela, seu companheiro Mico, e sua filha Alice, morreram em dezembro de 2021, vítimas de um incêndio devido às péssimas condições estruturais em que se encontrava o Conjunto Habitacional do Cordeiro, onde a negligência e a falta de manutenção do conjunto eram visíveis e há anos ela e sua família já reclamavam por reformas.
 
Mirão construiu pontes para fortes amizades e plantou sementes de coletividade, veganismo popular, soberania alimentar e de moradia digna popular em cada pessoa que trocou uma ideia, que deu um abraço ou "encheu a barriga" com suas criações alimentares.


Matéria Jornal do Comércio Pe - Incêndio:

Instagram - Empório das Rosas:

Mirão PRESENTE!
Alice e Mico PRESENTES!
Projeto EMPRETECENDO SUA COZINHA - EP.4 - EMPÓRIO DAS ROSAS:
    MIRTES    
Mercado da Madalena
Rua Real da Torre, sentido Norte, Mercado da Madalena
"O resto da minha vida sem meu filho."
#justiçapormiguel
Mirtes Renata Santana de Souza.
Mãe de Miguel Otávio Santana da Silva.

Em 2020, Mirtes trabalhava como empregada doméstica em um prédio luxuoso de Recife, durante a época mais crucial da pandemia covid-19. No dia 02 de junho, Mirtes passeava com os cachorros da “patroa”, Sari Corte Real, e precisou deixar seu filho, Miguel, de 5 anos, sob a responsabilidade de Sarí. Miguel foi procurar a mãe mas foi abandonado sozinho no elevador, vindo a óbito ao cair do 9º andar. A perícia apontou que Sarí apertou o botão da cobertura, antes de deixar a criança sozinha no elevador. Na época ela chegou a ser presa, mas foi solta após pagar fiança de R$ 20 mil. O caso ainda corre na justiça.

Acompanhe as entrevistas, matérias e dossiês sobre o caso neste link: https://msha.ke/mirtesrenata/

Hoje Mirtes faz faculdade de Direito, participa de grupos feministas e antirracistas de Pernambuco, em busca de fortalecer a luta contra o racismo estrutural que vitimou seu filho, representando principalmente o Direito das Mulheres Negras, o Direito das Crianças Negras, o Direito das Mães, os Direitos Trabalhistas das Empregadas Domésticas e o Acesso à Educação Gratuita e de Qualidade.

Especial Relatos de Março - MIRTES - CARTA CAPITAL:
    MARIELLE FRANCO    
Recife Antigo
Rua Tomazina, Recife Antigo
Marielle Franco.
Mulher Negra, mãe, filha, irmã, esposa e cria da favela da Maré.
Socióloga (PUC-Rio) com mestrado em Administração Pública (UFF).
Eleita Vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, com 46.502 votos.
Presidente da Comissão da Mulher da Câmara.

Marielle foi assassinada no dia 14/03/2018, logo após sair de um encontro com Mulheres Negras, sendo vítima de um atentado ao carro onde estava, o qual vitimou também o motorista Anderson Pedro Gomes. 
A dissertação de mestrado de Marielle teve como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”, demonstrando que todo seu trabalho e militância eram intensos na crítica à intervenção da polícia dentro das favelas e morros, tendo denunciado vários casos de abuso policial.

“Quem mandou matar Marielle mal podia imaginar que ela era semente, e que milhões de Marielles em todo mundo se levantariam no dia seguinte.”
  
Instituto Marielle Franco
Entrevista Exclusiva com Marielle Franco - AEQSE - Agora é Que São Elas:
    ELZA SOARES    
Mercado de Afogados
Elza Soares.
​​​​​​​Cantora e Compositora, considerada um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Grande referência na luta das Mulheres Negras.

A história de Elza Soares é marcada por grandes acontecimentos, dores, lutas e reviravoltas. Elza nasceu em janeiro de 1930, na favela Moça Bonita, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde hoje localiza-se a Vila Vintém. Sua mãe era lavadeira, seu pai era operário e gostava de tocar violão. Infelizmente, aos 12 anos, seu pai a obrigou a casar-se e Elza teve seu primeiro filho aos 13 anos. Aos 15 anos Elza já tinha perdido 2 filhos para as péssimas condições de sobrevivência em que se encontrava. Sendo viúva aos 21 anos, ela trabalhou numa fábrica de sabão e em seguida começou a perseguir sua carreira musical ao perceber que tinha talento e fez testes em rádios, como a Radio Tupi. Gravou seu primeiro disco em 1959, onde a música "se acaso você chegasse" alavancou seu sucesso.

Entre outros episódios marcantes, Elza já foi perseguida pela ditadura militar, teve a casa metralhada no Rio de Janeiro, exilou-se na Itália com Garrincha, na época seu marido, e que a violentava. Com o passar dos anos e as dificuldades de ser mulher negra, mãe e artista, Elza mais uma vez consegue reerguer-se, tendo lançado vários discos. Em 2002 recebeu a primeira indicação ao Grammy Latino, pelo disco "Do cóccix até o pescoço". Em 2015 lançou seu disco de grande sucesso "A mulher do fim do mundo", o qual foi eleito um dos 10 melhores álbuns de 2016. Apesar de ter passado por diversas situações em sua vida, Elza faleceu de causas naturais, em 20 de janeiro de 2022, onde morava.

Elza nos deixa um legado de mais de 35 álbuns lançados e diversas coletâneas, recebeu vários prêmios e foi indicada a muitos outros, tendo interpretado e gravado com outras/os grandes nomes da música brasileira e internacional. Elza é imensa e eterna, parece não caber em sua própria biografia, e literalmente cantou até o fim!

Saiba Mais sobre Elza Soares:

Matéria G1 - Trajetória de Elza

A Carne - Elza Soares (Videoclipe Oficial):
    CÁTIA DE FRANÇA    
Recife Antigo

Cátia de França.
Cantora, Compositora, Cordelista, Multi-instrumentista.

Grande representante Negra da Cultura Nordestina, Cátia de França nasceu na Paraíba, em 1947, é professora formada, mas não se deu no magistério. Filha de Adélia de França, primeira professora negra da Paraíba, Cátia foi alfabetizada em meio a muitos livros e música. Aos 19 anos Cátia se lançou na música, sendo hoje cantora, compositora, cordelista e multi-instrumentista. Suas canções já foram gravadas por grandes nomes da MPB, como Elba Ramalho, Amelinha e Xangai. Tem 6 discos gravados: 20 Palavras ao Redor do Sol (1979), Estilhaços (1980), Feliz  Demais (1985), Avatar (1996), No Bagaço da Cana: Um Brasil Adormecido (2012) e Hóspede da Natureza (2016).

Gravou o primeiro LP, 20 Palavras Ao Redor do Sol”, com músicas compostas sobre poemas de João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e José Lins Rego. 


Saiba mais sobre Cátia de França:


Vídeo-Entrevista - REVISTATPM - CÁTIA DE FRANÇA

Matéria Brasil de Fato - A força negra da compositora paraibana Cátia de França

Matéria G1 - 42 anos do disco "20 Palavras girando ao redor do sol"

    CONCEIÇÃO EVARISTO    
Estação Central do Recife
Rua Floriano Peixoto, ao final, após a Estação Central do Recife, São José
A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.”

(Trecho - A noite não adormece nos olhos das mulheres)
(Conceição Evaristo – Em memória de Beatriz Nascimento)


Conceição Evaristo.
Linguista / Escritora brasileira.

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946. De origem humilde, migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ, trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e Doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira em confronto com a do angolano Agostinho Neto. Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos Negros.
(Fonte: LiterAfro).

Conceição publicou 6 livros ao longo da carreira e recebeu diversos prêmios da literatura com suas publicações, como o Prêmio Jabuti de Literatura (2015), entre outros. Em 2018, ao se candidatar para compor uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras e não ter ganhado, Conceição Evaristo acendeu o debate sobre a falta de representatividade da mulher negra em espaços-históricos. Em entrevista à CartaCapital 2017, ela comentou: “Reconhecer que as Mulheres Negras são intelectuais em vários campos do pensamento, o imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe.”


Saiba mais sobre Conceição Evaristo:

LITERAFRO - O portal da literatura Afro-Brasileira - Faculdade de Letras da UFMG:

Matéria PEITA.ME:

Blog Conceição Evaristo:
Poesia Falada - "Da Calma e do Silêncio", por Conceição Evaristo:
    CAROLINA MARIA DE JESUS    
Santo Amaro
Rua dos Palmares, em frente ao Cemitério de Santo Amaro
Todos nós somos mortais. Ninguém é dono do mundo. O mundo é um hotel onde passamos uma temporada. Tudo o que nos rodeia é pó. O ferro, com o tempo, transforma-se em pó. Um móvel também será pó. Tudo é terra no mundo.

(Diário de Bitita - Carolina Maria de Jesus)
Carolina Maria de Jesus.
Escritora, Poetisa, Compositora. 
Foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil.

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914. Percorreu cidades do interior paulista junto à sua mãe em busca de trabalho. Em 1937 mudou-se para a cidade de São Paulo para trabalhar como empregada doméstica. Mais tarde foi morar na favela do Canindé, onde teve 3 filhos, e para sobreviver catava papéis e outros materiais para reciclar. 

Apesar da difícil realidade em que vivia, Carolina de Jesus era apaixonada pela leitura e, assim, pela escrita. Seu livro, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, publicado em 1960, é escrito a partir das memórias de uma mulher negra e favelada que também denuncia os contextos sociais em que vivia. Desta forma, Carolina Maria de Jesus descreveu sua própria história se tornando uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira, fazendo ponte com lutas que ainda são atuais no país: Acesso à Educação Gratuita e de Qualidade; Moradia Digna Popular; Direito das Mulheres Negras; Direitos Trabalhistas das Empregadas Domésticas, entre outras.


Saiba mais sobre Carolina Maria de Jesus:

Acervo Instituto Moreira Sales - CAROLINA MARIA DE JESUS

​​​​​​​Matéria El País - 2021
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CONSTRUÇÃO || REFERÊNCIAS || EQUIPE
A construção do projeto foi feita através de várias etapas e estudos, Mapeamento de locais, Entrevistas com algumas mulheres trabalhadores transeuntes, Pesquisa de Dados sobre Violências contra a mulher e sobre a relação entre as Mulheres e a Cidade, Pesquisa sobre as Mulheres escolhidas, Montagem dos lambes, Criação dos Croquis e Colagem Final.

REFERÊNCIAS:

* Laboratório da Cidade - Cidade para as Mulheres:

* Pesquisa Percepções sobre Segurança das Mulheres nos Deslocamentos pela Cidade 2021 - Instituto Locomotiva / Instituto Patrícia Galvão / ONU Mulheres.

* Pesquisa Assédio sexual contra mulheres nos transportes - 2019
Instituto Locomotiva / Instituto Patrícia Galvão

* Pesquisa Autonomia das mulheres - 2020
Instituto Locomotiva / Instituto Patrícia Galvão.

EQUIPE:

Criação/Produção/Textos Divulgação:
- Micaela Almeida (@micaelaiv)

Assistência Artística:
- MISS (misseravi)
- Saturno (@sinartes)
- Felipe Lemos (@lemosfelipe_)

Fotografia, Filmagens e Edição:
- Ingrid Veloso (@dirdiveloso)

Recife, Pernambuco, 2021/2022.
Projeto realizado com incentivo da LAB-PE 2021.
Corpo-Território: Grandes Mulheres Presentes
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