1º lugar - Prêmio Ibramem 2018
Daniela Moro, Gabriel Tomich
Orientadora: Marina Oba
2018
PROPOSTA
A inserção de pequenos equipamentos públicos nas regiões centrais das metrópoles é um problema que transcende a escala do objeto. Ao mesmo tempo em que há uma multiplicidade de funções urbanas que precisa ser incorporada a estas arquiteturas, é necessário enxergar o potencial de se intervir na escala do território.
Com a implantação de equipamentos urbanos modulares no centro da cidade de Curitiba (PR), propomos um sistema de objetos que, em sua unidade, seja capaz de absorver diversos usos necessários a quem se desloca no centro da cidade e, em seu conjunto, contribua com a geração de passagens, consolidando o centro como um tecido urbano conectado. A intervenção não se apoia diretamente sobre o sistema de espaços livres da cidade. Pelo contrário, baseia-se na apropriação dos espaços subutilizados em meio ao tecido urbano - neste caso, lotes de estacionamento centrais - entendendo-os como objetos passíveis de apropriação cuja existência não é necessariamente antagônica com a de um centro urbano de pedestres. Propõe-se uma arquitetura que não somente convive com a infraestrutura já existente na cidade, mas sim que a utiliza como suporte.
NOMADISMO URBANO E O CENTRO DE CURITIBA
O tecido urbano dos centros das metrópoles pode ser compreendido, sobretudo, como um grande espaço de passagem, interrompido por arquipélagos de atividades e locais de estar. O centro é o território da deriva, em que as vivências se dão nos percursos e nos interstícios.
No entanto, a vivência cotidiana do centro de Curitiba se mostra bastante distinta da “cidade modelo” com a qual a capital busca se associar. Os espaços de deslocamento à pé não vem sido privilegiados, o ciclismo luta para se desenvolver como modal e há cada vez menos apoio a quem vive nas ruas.
Nesse sentido, a busca de passagens, conexões, rasgos e transposições são operações cada vez mais necessárias. A proposta vislumbra essas possibilidades no sistema de estacionamentos - bastante extenso - do centro da capital. Muitos destes lotes conectam duas ou mais ruas, constituindo passagens em potencial. Identificamos, nesta proposta, 6 locais de intervenção em que a possibilidade de passagem se encontra mais latente, seja pela conexão entre espaços livres ou pela expansão de funções presentes em edifícios e locais públicos.
Partindo de alguns dos principais usuários do centro - trabalhadores, moradores de rua, ciclistas, turistas e outros, propomos algumas funções específicas - como guarda-volumes, bicicletários e chuveiros - e também funções abertas a apropriação.
Assim, a proposta contribui duplamente para o nomadismo urbano e a vivência da cidade: ao mesmo tempo em que gera possibilidades de passagem no tecido urbano central, a intervenção reduz a dependência do caminhante dos edifícios, ao possibilitar usos que, do contrário, seriam raros ou inexistentes no espaço livre. O turista, o flanêur, o morador de rua, o caminhante cotidiano. Todos possuem a possibilidade de se apropriar - em maior ou menor grau - dos espaços e funções gerados por este equipamento.
MÓDULO
O uso do CLT como material principal de construção permite abordar a construção em madeira de maneira bastante distinta do que se costuma realizar. Propomos, a partir de uma leitura das possibilidades e características deste material, um objeto de desenho simples, mas preciso.
Primeiramente, a construção em paineis permite a prefabricação dos módulos. As unidades propostas possuem tamanho total de 10m de comprimento e 4m de largura, o que permite que sua construção seja realizada inteiramente em uma fábrica, sendo transportada já pronta até o local de intervenção. Essa característica permite que os módulos sejam posteriormente realocados ou recombinados, por qualquer razão que se mostre necessária.
A tectônica e características estruturais do material favorecem a construção com planos extensos que sobrepõem fechamentos e estrutura, podendo receber aberturas em qualquer sentido sem prejuízo de sua rigidez. O módulo se desenvolve a partir de um núcleo composto por paineis longitudinais e transversais intertravados. Os paineis transversais, cuja seção se repete em todos os módulos, definem a largura do núcleo programático mas, variando em seu espaçamento, definem comprimentos diferentes para o espaço de cada atividade. Já os paineis longitudinais variam em suas dimensões, podendo fechar ou abrir o espaço dependendo da função que cada módulo recebe.
O conjunto de opções geradas define, mais que um objeto limitado, um sistema de possibilidades aberto para apropriação, conformando um suporte para diversos tipos de funções urbanas.