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Criação de conteúdo - textos do blog Maternólatra

Sling é coisa de índio

Meu nome é Luana Del. Engravidei aos 25 morando em São Paulo, capital das diferentes culturas – lugar onde se pode andar livremente com o seu estilo sem que ninguém te olhe da cabeça aos pés como se você tivesse vindo de Marte. Eu e meu marido nunca fomos pessoas do tipo que se enquadram e se adaptam facilmente. A gente chama isso de liberdade; os outros, maluquice. Afinal, quem gosta de caixa é gato, a gente nasceu fora dela e nunca fez questão de entrar. É claro que isso (direta ou indiretamente!) se estenderia ao nosso filho.

Eles SEMPRE vão copiar o que a gente faz.
Grávida, eu andava pelas ruas de SP e via mães e pais andando com seus bebês em slings, cangurus e ergomochilas mal esperando a hora de ter meu filho assim também.  Quando meu filho nasceu, eu sentia muita saudade do barrigão, precisava carregar meu filho e também ter as mãos livres. Compramos um sling wrap. Me senti feliz da vida ao fazer as amarrações, ao ver como meu filho se sentia quentinho e protegido ali, fora a sensação de estar grávida de novo. Aprendi as amarrações em mim e no meu marido. Amamentava com o bebê no sling. Fazia pequenas tarefas domésticas com ele preso ao meu corpo. Foi o máximo!


Como eu estava

Como eu me senti
Foi o máximo, eu disse, né? Até por o pé na rua. Resolvi tomar um café na padaria da esquina e vi duas senhoras falando alto:
Isso é coisa de mãe despreparada. Onde já se viu? Prende a circulação da criança. Esse pano é COISA DE ÍNDIO!

Andar de sling na minha cidade é se deparar com caras assim
Voltei pra casa arrasada. Larguei o sling e chorei. Expliquei pro meu marido o que tinha acontecido e ele também ficou mal. Fiquei pensando naquelas palavras pelo resto do dia: despreparada, prender a circulação, coisa de índio. Mãe de primeira viagem lê tudo, ouve tudo, pesquisa tudo. Somos mães na era do Google. Como eu poderia ser despreparada, se o sling é uma técnica milenar e faz bem? Como a circulação poderia estar presa se meu filho chora incomodado até com etiqueta de roupa e nunca chorou no sling? Ecoisa de índio? Hein?!
Foi então que imaginei se eu fosse uma índia mesmo. Imaginei como seria minha maternidade em uma tribo. Eu poderia:
Amamentar meu filho livremente, sem ninguém tirando foto nem teriam senhoras tentando me cobrir, mesmo que com “boa intenção”.
Meu filho seria criado com o pé na terra e comendo fruta do pé.
Eu poderia andar de sling pra cima e pra baixo sem ninguém opinar.
Eu trabalharia com ele coladinho em mim, no sling, até o anoitecer. A realidade é que hoje eu saio de casa com ele ainda dormindo, dou um beijo sem acordá-lo, fico fora por onze horas, o busco na escola, brinco por uma hora, dou banho e mamadeira. Total: duas horas por dia com ele. Eu abriria mão do ar condicionado, do salário, dos benefícios; faria um trabalho braçal como as índias fazem… Se eu pudesse tê-lo comigoo dia todo, como as mães indígenas maternam. Desculpem o desabafo.

E agora, quem é que parece o “povo atrasado” e infeliz?
 Cá entre nós, se você toma remédio ou chá de planta, usa alargadores e o mais importante, TOMA BANHO TODOS OS DIAS, saiba que você também é um pouco índio. E eu queria mesmo era ser índia. Há essas horas eu tava na rede amamentando meu filho Tupã e fazendo carinho na minha preguiça de estimação. Ah Cabral, um dia você ainda me paga.
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