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SENTIR MUNDO • EXPOSIÇÃO • Museu do Amanhã

SENTIR MUNDO • Exposição 

Idealizada pela Sensory Odyssey Studio em coprodução com o Muséum National d’Histoire Naturelle, em Paris, França, a exposição SENTIR MUNDO, inaugurada no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, Brasil, aguça os sentidos e é acompanhada por um painel detalhado, que inclui ilustrações minhas e um acervo entomológico, destacando as principais espécies de cada área.

O painel completo apresenta três diferentes ecossistemas: 

1. No Dossel da Floresta - Explore as histórias antigas da mata e a rede de relações entre suas inúmeras espécies, incluindo os povos indígenas e sua relação apaixonada com a natureza.
2. A Dança dos Insetos - Descubra o mundo fascinante dos insetos, a polinização e a intrincada dança da vida que une flores e polinizadores.
3. Por Dentro do Solo - Mergulhe na complexa negociação de existências no subterrâneo e observe como diferentes seres, desde minúsculos microrganismos até animais maiores, constroem juntos um ecossistema vibrante. 
Uma imensa rede de afetos

Como seria a flor se ela nunca tivesse recebido a visita de um inseto? Como seria a raiz de uma planta na total inexistência dos fungos? A exposição Sentir Mundo - Uma Jornada Imersiva inspira perguntas assim, que nos lembram da importância das relações que cada ser vivo estabelece com os outros. É o inseto que intensifica a existência da flor, e a flor, por sua vez, intensifica a existência do inseto. Isso porque é nesse encontro que algo se passa entre eles, e ambos têm a oportunidade de tornar-se algo que ainda não são: basta um gesto que seja capaz de abri-los às experimentações.
É por meio desse gesto que as relações criam seus mundos. A existência dos cheiros, por exemplo, possibilitou a atração dos insetos - mas os aparatos que as moscas têm para senti-los são diferentes dos aparatos das abelhas. É como sentir o Sol na pele: se pudéssemos saber como uma folha sente o Sol, certamente seria diferente da sensação que uma toupeira tem. Assim, a folha, a toupeira, a abelha e a mosca participam ativamente da criação de um mundo inteiro ao redor.
Tudo está sempre em processo de se tornar algo, de mudar de cor, de aparência, de inventar novas anatomias conforme os encontros afetam cada um que deles participam. Isso se dá em um ziguezague de ritmos e paixões - sim, doses de paixão alegres são necessárias, pois são elas que nos abrem às potências da vida! Isso permite que as espécies acionem suas habilidades de criar, de afetar e de serem afetadas nessa enorme rede de conexões multiespécie que habita o planeta - e que celebramos neste espaço.
Neste infinito processo de vir-a-ser, o que vemos são formas temporárias. A vida turbilhona nesse espaço do entre, em que infinitas possibilidades de conexões estão à espreita, à espera de um gesto que as mobilize para que, no alvoroço dos encontros, algo se torne o que ainda não é. Há nisso, inegavelmente, uma grande fragilidade. E talvez seja nessa fragilidade que resida a sua maior potência.
No dossel da floresta

A mata conta histórias de longa data. Não apenas pelos fluxos de energia dos seus processos ecológicos, mas também por ser um lugar onde tudo o que existe depende do profundo emaranhado de relações entre seus habitantes. E são muitos os habitantes necessários para produzir a imensidão de uma floresta!
Nessa história embalada pelo crescimento das árvores, as folhas expostas à luz do Sol passam pelo processo da fotossíntese, gerando oxigênio. Outros seres se conectam às plantas, ao respirarem o oxigênio que elas produzem, ao consumirem seus frutos, ao incitá-las a produzir novos compostos bioquímicos e outras infinitas formas de alianças vegetais. Os povos indígenas, em suas práticas imersivas e apaixonadas, têm uma importância fundamental nesse processo. Como se dedicam a prestar atenção nas coisas, criam parentescos com os outros componentes da paisagem, fazendo existir novos modos de ter cuidado. E é graças a essa atenção a todos que fazem parte dessa história multiespécie que a floresta insiste e persiste em continuar existindo.

Espécies ilustradas: Swartzia polyphylla Cobra Corallus hortulanus | Centopeia (Julida) | 
Megasoma actaeon | Preguiça de três dedos (Bradypus tridactylus)
A dança dos insetos

Eles estão entre os animais mais numerosos do planeta. O advento das asas, de um exoesqueleto de quitina e de diferentes formas de desenvolvimento conferiram aos insetos o alcance aos mais diversos lugares e tipos de alimento.
Em um dado momento de suas histórias evolutivas, os insetos encontraram as flores, e esse gesto abriu portas para uma nova relação: a polinização. E teve início um longo processo de intimidade entre ambos: a existência de glândulas de odores nas plantas possibilitou a emissão de aromas que são acessíveis aos receptores químicos dos insetos. O formato das pétalas, por sua vez, foi possibilitando o pouso. Já as cores também passaram a ser decodificadas pelos polinizadores.
E eles fizeram uma aliança na qual se dedicam a prestar atenção um no outro. Acontece que a experimentação os desestabiliza, os desloca, os coloca à deriva em busca de novas articulações. Isso produz ruídos de desencaixes que colocam insetos e flores em movimento. Nessa dança, eles vão se entrelaçando, dando cordas às histórias que contam com seus corpos. Ao mesmo tempo, aprendem que ter intimidade é colocar-se na condição de ser um eterno desconhecido.

Espécies ilustradas: Abelha europeia (Apis mellifera) | Mosca Bombylius major | Grande gafanhoto verde (Tettigonia viridissima) | Borboleta Issoria lathonia | Joaninha de sete pintas (Coccinella septempunctata)
Por dentro do solo

Há toda uma negociação entre diferentes existências quando as raízes começam a crescer no solo. Adentrar esse lugar desconhecido faz delas uma estrangeira, pois é preciso destreza e cuidado para rasgar a terra e abrir caminhos. Assim, novas vidas passam a ser bem-vindas nesse espaço que começa a se modificar. Chegam os fungos e bactérias que se conjugam à raiz, pequenos insetos, vermes, minhocas, besouros, outras raízes...De modo que um novo mundo passa a existir como parte desses processos de negociações.
Chegam as formigas que iniciam as construções dos seus subterrâneos, carregando folhas, sementes e pétalas que serão decompostas pelos fungos. Mais nutrientes ficam disponíveis no solo, e aos poucos vão chegando animais maiores, como as toupeiras.
Todo um universo passa a existir com essa rede de vida que conecta esses agentes e que, com isso, cria um ambiente no qual eles conseguem habitar juntos. Há toda uma ética de convívio que os entrelaça na criação desse mundo comum. Comum porque está sempre em negociação, sempre em processo, e nada pode ser dito de antemão sobre o que está por vir.

Espécies ilustradas: Cogumelos agárico-mosca (Amanita muscaria) | Bactérias que decompõem a matéria orgânica | Stentors | Toupeiras (Talpa europaea) | Formigas (Formicidae)​​​​​​​
Agradecimentos especiais: Ana Bandarra (IllustrationX) | Amarílis Lage de Macedo | Guilherme de Oliveira Venancio | Mariana de Freitas Boghossian | Fabiola Fonseca
SENTIR MUNDO • EXPOSIÇÃO • Museu do Amanhã
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