Pela procura de sentido
As novas tecnologias têm um papel transformador na nossa sociedade, são capazes de potencializar a nossa capacidade de comunicação e são veículos importantes para a disseminação de ideias. Como projeto de primeiro semestre foquei-me na exploração das complexidades da letargia do espectador, mais especificamente na inação resultante do controlo promovido pelas novas tecnologias, especialmente na forma como moldam a perceção e influenciam comportamentos, e na forma da natureza humana de procurar a fé como sustento da sua vida.
A conceptualização foi fortemente influenciada por obras literárias e ensaios como o conceito de banalidade do mal de Hannah Arendt no livro Eichmann em Jerusalém e Media control de Noam Chomsky, reconhecendo a existência de um mal enraizado, o poder da propaganda, o indivíduo massificado, incapaz de pensar por si, tornandose numa ferramenta de obediência cega.
O projeto também se aprofunda nas reflexões apresentadas por Bernard Stiegler em Da Miséria Simbólica - Volume I, no qual é explorado como as tecnologias audiovisuais e digitais são utilizadas para controlar o consciente e inconsciente, moldando os ritmos da consciência e da vida.
Também em referências cinematográficas como Tetsuo: the Iron Man e Videodrome, identificando uma perceção metafórica à relação simbiótica entre humanos e máquinas, e como essa interação pode conduzir à alienação social e distorção da ordem natural das coisas como o nosso estado mental e físico.
Resolvi, por isso, representar uma figura em metáfora do humano, feita de arame e ligaduras de gesso, numa forma de toro, reminiscente do Ouroboros, simboliza a incapacidade do humano escapar das suas próprias armadilhas, enfatizando a sensação de estagnação.
A projeção na figura de fusões de cores e análises reativas ao som, criada através da plataforma Touchdesigner, destaca a singularidade da perspetiva humana, simbolizando como a visão é moldada e manipulada pela propaganda. Nas cores presentes houve a intenção de coincidir os tons remetentes ao metal da tecnologia e aos tons de rosa pelo sangue e a pele. A inclusão de mensagens de vozes A.I., criadas pelo Clipchamp, com frases do chatgpt e então manipuladas no premiere, explora a influência profunda da propaganda nas mentes individuais, transmitindo ideologias distorcidas e afirmações que encaminham o espectador para a adoção dessas ideologias.
O toro divide-se em dois lados contrastantes. O lado atingido pela projeção, com superfícies uniformes reflete a influência da propaganda. Este lado, sem identidade própria, é uma representação visual da perda de autonomia na própria formação.
Por outro lado, o lado não atingido pela projeção destaca-se por elevações, rugosidades e texturas orgânicas, simbolizando a essência e a complexidade da natureza humana. Este lado enfatiza a corporalidade como algo intrinsecamente ligado à transformação, rituais, deformações e espiritualidade, resistindo à homogeneização.
