Ana Fonseca's profile

D. BRANCA E SR. MOÇO

 
 
 
D. Branca e sr. Moço é uma marca 100% portuguesa, que promove um produto nascido em terras lusas, que é essencial à vida mas que deixou de ser acarinhado: o sal.
O sal sempre teve, desde tempos imemoriais, um papel nobre nas nossas mesas e com razão, pois é essencial à vida. No entanto perdeu grande parte do seu carisma nos tempos modernos, apesar de ser o único tempero verdadeiramente universal.
Para restabelecer a nobilidade do sal a nossa marca decidiu usá-lo para criar produtos de valor acrescentado, criando rituais em torno da sua utilização, experiências novas e únicas, que recorram a novos gestos e sentires, tanto na cozinha como na mesa, seja no dia-a-dia ou numa ocasião mais especial.
O nosso objectivo não é portanto vender sal, é criar toda uma nova consciencia e relação com o mesmo, promovendo momentos únicos de interacção com este, valorizando o seu consumo consciente e saudável, quer usando apenas sal marinho tradicional, flor de sal ou salicórnia, quer adoptando um conceito de dosagem, através da dose recomendada por pessoa, por refeição.
No fundo, queremos devolver o estatuto devido e o encanto ao sal, através de uma nova identidade, a de um produto vivo, fruto do trabalho e do enamoramento de quem o “faz” e colhe.
 
 
 
 
 
 
 
Conto
Era o Tempo das Curas. Sr. Moço, aprendiz de marnoto, homem delgado, comido pelo sol, fazia as águas. Peregrino e sem casa, limpava as lamas em silêncio enquanto os marnotos planeavam alegremente a festa. Haviam de vir Pauliteiros, as gaitas de foles tocariam, tinha que haver baile.
 
Chegado o dia da Botadela, as águas inundam as eiras, faz-se a festa mas Sr. Moço, perdido na sua solidão, não se alegra. Não há ninguém com quem o fazer, nem mulher nem amiga nem vislumbre de moça que lhe possa interessar.
Cansados do bailarico, Salineiras e Marnotos regressam a casa e esperam. A morte das águas dura o tempo do descanso antes do regressoà faina.
Sr. Moço, desalentado, deita-se ao luar da margem das eiras e, cansado, adormece.
Acorda a meio da noite, com a cara molhada, e diz “Moço, que tontaria é esta? Choras porqu
e te acompanha apenas a tua sombra quando a tua vida não conheceu outro fado além da solidão?”
- Não são lágrimas, Sr. Moço, foi um beijo que vos dei, diz uma voz.
- Quem anda aí, que eu não vejo? Pergunta Sr. Moço.
- Tantos anos viajei, sem destino nem paragem, por mares e rias, sabendo, porém, que havia de vos encontrar para me fazerdes feliz, retorna a voz.
- Quem está aí? Pergunta outra vez Sr. Moço.
- Sou eu, na água, que espero por vós para me juntardes e me dardes forma. Amanhã, pela madrugada, ides vislumbrar a semente do que sou. Depois dar-vos-ei prendas, para vos cativar para me conhecerdes melhor.
A alvorada acorda, em eiras vestidas de branco.
- Dormistes bem, Sr. Moço?
- Quem fala daí? Se sois real e não um sonho mostrai-vos, dai-vos a conhecer! Ordena Sr. Moço.
- Mais do que vedes não vos posso mostrar, preciso que o sol me descubra e revele. Sou D. Branca, Sr. Moço, vivo na água das eiras à espera de um dia ser vossa. Sr. Moço ri e congemina “Moço, im chigada a maré (1) perdeste o tino de vez. Pranta-te no trabalho que será melhor”.
Estão mortas as águas. Sr. Moço começa a coçar o sal e a rer com a razoila. D. Branca, entristecida pelo descrédito de Sr. Moço, deixa-se acariciar e, devagarinho, vai sendo colhida para a berma da eira.
Chegada a tarde de um dia quente e sem vento, fala D. Branca: 
- Sr. Moço, eu existo e tenho como vos provar. Vêde as flores que vos fiz.
Sr. Moço, incrédulo, olha para as flores de sal e colhe-as com carinho. Sensibilizado, continua a coçar e a rer por dias e dias. À medida que a pilha de sal se forma, enamora-se dela. Falam dia e noite e riem da sorte que os juntou.
- D. Branca, as eiras donde vindes são a calçada por onde eu passeio o meu amor que tantos anos aguardou uma foz que agora encontrei em vocemessê. Diz todas as noites Sr. Moço à sua amada, antes de dormirem enleados nas salinas.
Formada a serra de sal, Sr. Moço, ardente no seu amor diz:
- D. Branca quero botar-vos num altar, dizeis-me que sim?
Casa com ela. D. Branca está adornada com brincos de filigrana e Sr. Moço cobre-a com xaile de salicórnia, fazendo de seguida as sua juras.
- D. Branca, cada vez que alguém sentir o sal do suor nos seus lábios, saberá o sabor dos vossos beijos.
- Sr. Moço, sempre que uma lágrima rolar na cara, alguém saberá a leveza das carícias que me dais.
O amor de D. Branca e Sr. Moço durou para sempre, porque o suor ainda tem sal e as lágrimas ainda rolam suavemente.
 
 
(1) Daqui a pouco. Regionalismo aveirense. 
 
Os nossos produtos foram feitos para satisfazer verdadeiros gourmands, apreciadores incontestáveis de boa comida e dos pequenos prazeres da vida. Estas pessoas pertencem por norma a uma classe média-alta ou alta e são atentas, acima de tudo, à qualidade dos produtos e ao detalhe, o que faz deles consumidores conscientes e comedidos, na medida em que não compram por impulso, adquirindo apenas o que consideram ser de valor.
Estes consumidores, além de não se importarem de pagar mais para obter produtos melhores, também não se importam de procurar os seus produtos predilectos fora das grandes superfícies comerciais e, muitos preferem até deslocarem-se a lojas específicas, de produtos gourmet, ou comprar no comércio tradicional. 
No fundo, este público quer coisas únicas, que valham o dinheiro gasto na sua compra, que sejam genuínas e que tenham de preferência um valor acrescentado. São o tipo de pessoas que frequenta restaurantes de cozinha de autor, que consomem produtos orgânicos e com denominação de origem protegida e que têm preocupações relativamente  à ética e sustentabilidade por detrás dos bens de consumo.
 
 
 
 
 
Mercearia Gourmet
A mercearia gourmet é o tipo de estabelecimento mais adequado para vender os nossos produtos, por ir de encontro ao conceito da nossa marca.
O ritual na cozinha e à mesa, experienciado pelo utilizador, é como que antecipado neste espaço, pois a própria forma como o produto é cuidadosamente colocado nas embalagens personalizadas da marca, pelas mãos cuidadosas e experientes do merceeiro é um ritual por si só. Nestes espaços, elegantes mas pouco ornamentados, os nossos produtos enquadram-se na perfeição. A beleza da madeira antiga dos armários casa armoniosamente com os produtos, despojados dos grafismos estridentes do mundo de hoje, da mesma forma que as silhas e o sal que nelas escorre se completam. A tecnologia fica à porta, mas no interior estão patentes objectos que são fruto de mãos trabalhadoras, humildes, habilidosas e sábias.
Além do mais, o sal sentir-se-á honrado por poder tomar lugar novamente junto dos produtos portugueses mais emblemáticos, da mesma forma que estes assistirão ao renascer do mesmo, em todo o seu esplendor.
 
 
 
 
 
Produtos
Tendo em mente o conceito de criação de novos rituais, em torno da utilização do sal e da educação da população para o consumo saudável e consciente do mesmo, foram desenvolvidos quatro produtos. Estes foram pensados para serem usados quer na confecção dos alimentos, na cozinha, quer para finalizar um prato, dando-lhe um toque especial e proporcio-nando uma nova interação com o sal à mesa, como alternativa ao banal saleiro.
Os nomes dos nossos produtos são uma homenagem à cultura e tradição portuguesas, enfatizando o carácter 100% português da nossa marca. São eles os Pauliteiros, Calçada, Filigrana e Xaile, feitos utilizando sal marinho tradicional, flor de sal e salicórnia de qualidade excepcional, obtidos unicamente por processos manuais e fornecidos apenas por produtores nacionais.
PAULITEIRO
Este produto consiste num pau de loureiro descascado, cuja ponta é mergulhada em gelatina vegetal, de forma a segurar pedras de sal marinho tradicional. Foi pensado para ser usado na confecção de alimentos numa panela ou tacho, tais como sopas ou estufados.
Em cada Pauliteiro é referenciado um código de dosagem, conforme a quantidade de sal que possuí, de acordo com o número de pessoas para a qual vai ser cozinhada a refeição. Esse código é representado sobre a forma de cristais de sal, simplificados, que possuem uma forma quadrada e que são gravados na ponta do pau de loureiro, sobre a madeira.
CALÇADA PORTUGUESA
Inpirada nos queijinhos de sal de Rio Maior, a nossa calçada é feita pelo mesmo processo: o sal marinho tradicional, húmido, é moldado em formas e posto a secar ao sol durante um dia, sendo depois cozido em forno de lenha. Este pequeno bloco de sal cilíndrico é depois raspado com auxilio de um pequeno raspador, que consiste numa vareta de madeira de faia com um fina lâmina de sílica, de forma a obter sal em pó, sendo uma excelente alternativa em relação ao sal de mesa comum, por não possuir anti-aglomerantes e outros aditivos.
Cada cilindro de calçada mede 6 cm de altura, tem 2,5 cm de diâmetro, e contém 25 g de sal.
O raspador é vendido em separado, bem como uma anilha de madeira que protege o sal.
 
FILIGRANA
A Filigrana é o mais delicado de todos os nossos produtos. Consiste em pequenos discos de flor de sal, aglomerados graças à presença de ágar-ágar. Cada disco consiste numa dose individual de 2 g, que se desfaz delicadamente com os dedos. 
À semelhança da flor de sal, utiliza-se para finalizar pratos, após estes saírem do lume, 
habitualmente na mesa.
XAILE
Este produto, que consite em salicórnia seca, uma planta halófita desconhecida do público em geral, pode substituir o sal total ou parcialmente, dependendo do alimento confeccionado. Do ponto de vista nutricional a salicórnia é mais rica que o sal, por possuir vitamina C, ácidos gordos e proteínas.
A sua apresentação é semelhante à de uma erva aromática, sendo vendida avulso.
 
 
 
 
 
Embalagens
Os nossos produtos, como foi anteriormente referido, são vendidos em mercearias gourmet, avulso, quer seja à unidade, como os Pauliteiros, Calçada e Filigrana ou a peso, como é o caso do Xaile.
De acordo com este conceito desenvolvemos diversos tipos de embalagens:
Primárias, para proteger cada unidade de Filigrana e cada Pauliteiro individual e outras para transportar da mercearia para casa os restantes Pauliteiros, Calçada, e Xaile; que se consideram secundárias quando servem para transportar a Filigrana ou os Pauliteiros individuais.
 
 
 
 
 
 
Expositor
Desenvolvido com o propósito de expor a gama de produtos D. Branca e Sr. Moço no ponto de venda.
Feito em faia europeia com tampa e reservatório de vidro. A pinça usada para retirar o Xaile do reservatório está 
encaixada de forma dissimulada na tampa do mesmo.
 
 
 
 
 
PORTfolio Graduate Show 2012 - 1º lugar
 
ATWI - Categoria Mercado - 1º lugar
 
Exposição temporária, Núcleo Museológico do Sal, Figueira da Foz, Portugal
 
 
 
 
 
 
Em colaboração com: Ana Rego, Cândida Brites, Pedro Monteiro, Pablo del Alamo e Miguel Rocha
D. BRANCA E SR. MOÇO
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