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Territórios Habitados - processo de criação

Territórios habitados
processos criativos  
Decidi escrever esta parte do projeto como forma de compartilhar a teia formada através do processo criativo desta obra, longe de linearidade e certezas, meu processo criativo, mesmo contendo etapas definidas, se deu através de dúvidas, testes e a cada dia modifiquei ou confirmei a minha relação no processo de trazer minha obra da virtualidade para a realidade. 
Organizei estes relatos a partir de mensagens que enviei à mim mesma em um grupo no aplicativo WhatsApp, por ter para mim, uma maior praticidade de utilização, tornando a escrita de mais fácil acesso e agilidade. Coloquei a data de cada relato para evidenciar a velocidade na qual este projeto ocorreu, muito embora tivesse um prazo final, meu processo de organização e para produção aconteceu após algumas semanas, mesmo o relatos estando em ordem cronológica, muitos surgiram a partir da escrita semanas depois, como lembranças de ideias que tive e depois substitui.
21. Set. 2022 - Durante a reunião sobre o TCC, falei um pouco mais sobre minhas ideias a respeito da obra, pensei em usar algum material leve, talvez isopor ou E.V.A para criar relevos no mapa, cobrindo-os com fotografias. Meu professor ressaltou a importância de produzir material a mais, para ter mais espaço para explorar os resultados, em torno de 10 vezes mais fotografias do que eu realmente iria usar na obra. Contando que, em semanas anteriores fiz um cálculo, de acordo com o tamanho final da obra (1,5 m X 2m), e obtive como resultado que deveria utilizar aproximadamente 50 folhas sulfite, uma fotografia por folha, logo, teria que produzir 500 fotografias.
22. Set. 2022 - Após escutar um áudio sobre Spinoza para Deleuze, utilizando do livros de Deleuze que falam sobre a composição de cartografia e corpo e, penso em não mais utilizar apenas o meu corpo - poética que partiu de um sentimento de tomar as "rédeas" do meu corpo, mas qie vem se modificando através de diálogos com a própria filosofia de Deleuze - penso em misturar corpos devires do que pode se apresentar como um corpo, trazer o corpo devir-animal e o corpo  devir-mulher também neste corpo.
03. Out. 2022 - Hoje fotografei com uma câmera profissional, emprestada de uma amiga, ainda estou no processo das linhas, comecei construindo as linhas de maneira simples e, aos poucos fui intensificando as torções para criar cada vez mais relevo, explorando para isso, ângulos distintos.
04. Out. 2022 - Editei as fotografias tiradas ontem no aplicativo inshot, coloquei um filtro preto e branco, mas como ainda não estava como eu desejava, intensifiquei o contraste até o número 50, alternando o contraste de acordo com a necessidade e explorando ângulos. 
Tive ainda um encontro na Residência Artística. Lá, mostrei as fotografias editadas e disse que desejava fazer alguns testes em amostras da obra, imprimindo apenas algumas fotos e bordando-as para entender o processo, uma colega do projeto me sugeriu fazer as impressões em papel foto, que, apesar de mais caro que o papel sulfite, o qual eu pensava em fazer a obra, traria melhores resultados na qualidade das fotografias. 
05. Out. 2022 - Após a aula com o meu professor orientador, mostrei para ele as fotos editadas, observei que por conta da iluminação de cada foto, e o tratamento parecido, muitas ficaram contrastantes, algumas muito escuras e outras muito claras, durante a nossa conversa decidi que não precisaria criar um relevo tridimensional sendo que poderia utilizar da luz e sombra das próprias fotos e, através da organização delas, produzir a ilusão do relevo. ​​​​​​​
08. Out. 2022 - Selecionei três fotografias para produzir os testes da obra, organizei-as em uma folha tamanho A4 e imprimi uma em sulfite com impressão a laser, uma em papel canson em impressão a laser e uma em papel fotográfico com impressão a jato de tinta. A diferença de qualidade entre o papel fotográfico e as outras duas folhas foi enorme, uma vez que a folha sulfite e a folha canson quase não tiveram diferenças entre si. No papel fotográfico a imagem apareceu mais nítida, com luz e sombra bem delineados. ​​​​​​​
29. Out. 2022 - Por conta do final de semestre, férias e  trabalho, não consegui dar continuidade às investigações, retornando somente hoje. Comecei recortando as imagens e separando-as do seu fundo, depois disso, investiguei formas distintas de conectá-las, cortando então algumas partes para que a conexão se tornasse mais fluida possível. Todos os processos foram feitos na mesma ordem, primeiro papel fotográfico, depois, papel canson e então o sulfite. ​​​​​​​
30. Out. 2022 - Hoje dei continuidade à produção das amostras, colei uma parte na outra e depois colei-as no papel craft, percebi que para colagem o papel canson se saiu melhor, uma vez que o papel fotográfico manchava com a cola e o papel sulfite criava rugas quando colado ao craft. Depois, com a ajuda de uma agulha fina, furei caminhos para bordar os trajetos com uma agulha um pouco mais grossa, e um fio mais grosso que ela (também dica da minha colega de residência artística para que os furos da agulha não aparecessem). 
O papel fotográfico apesar de ter uma gramatura mais alta se mostrou relativamente fácil nesta tarefa, o papel canson foi bem difícil, o que fez com que eu descartasse a possibilidade de usá-lo, com o tempo, a agulha que eu estava utilizando, por ser fina demais, começou a furar o meu dedo, então decidi que para a produção da obra vou usar alfinetes. O papel sulfite foi fácil de furar e bordar, me dando assim maior agilidade no processo. 
Depois de finalizar estas experimentações, concluí que o papel fotográfico seria o melhor para ser utilizado na obra, mas seu valor é quatro vezes maior que o papel sulfite, o que também me deu bons resultados na produção. Com isso, irei pesquisar valores para a impressão do papel fotográfico em grande quantidade, além de pesquisar lugares que tenham uma impressão de maior qualidade no papel sulfite, além de aumentar o contraste das fotografias, o que pode resultar em imagens mais nítidas, como as do papel fotográfico. Outra conclusão importante foi a necessidade de fazer pequenos grupos de colagem para bordar, uma vez que não conseguirei bordar as folhas se estiverem muito grandes. ​​​​​​​
31. Out. 2022 - Diante das minhas investigações, do tempo que é necessário principalmente para o bordado e do prazo que se aproxima, decidi criar algumas etapas de produção e prazos. Destinei a terça-feira para produção, uma vez que no período da manhã acontecem os encontros da residência artística, e tenho a tarde livre, podendo permanecer no Barracão de Arte da universidade o dia todo. Com isso, coloquei como prazo a produção das fotografias até dia 6 de novembro, para que na terça-feira seguinte possa editá-las. De forma paralela, preciso pesquisar valores e alternativas de impressão, além da compra de materiais como tesoura pequena para recortar com maior precisão e cola de boa qualidade. Caso eu faça em papel fotográfico, o uso do papel craft não é necessário, mas o uso do papel paraná será indispensável para criar mais segurança na colagem das fotografias, além de servir de estrutura para a borda em crochê que irá se expandir em ramificações pela casa de exposições. Imagino ainda, que é necessário deixar uma borda de papel paraná entre as fotos e a parte de crochê, evitando que o peso do fio possa rasgar o papel, além de produzir os furos com um cortador específico, impedindo rasgos caso tente fazê-los com a tesoura, após a conclusão da borda, penso em cobrir a parte dos furos com fios esticados, colados no papel. ​​​​​​​
06. Nov. 2022 - Aproveitei o dia para fazer fotos dos pés, experimentei principalmente as texturas e as formas dos dedos. 
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08. Fev. 2023 - "Tem que aprender a chorar palavras".
Da mesma forma que as ideias acontecem de forma não linear, em certo momento de criação passei a não mais escrever, as ações precisam de certos momentos apenas seus, onde as palavras não mais cabem no espaço ocupado pelo corpo. Sendo assim, irei contar resumidamente os acontecimentos. Imprimi as fotos em um papel fotográfico de baixa espessura, o que me auxiliou para bordar. 
No dia em que recortei as imagens, em torno de 30, algumas ocupando folhas inteiras e outras apenas meia, a empolgação foi tanta que decidi colar no mesmo dia. Colei todas as imagens, esquecendo que o planejamento era de separar por grupos para facilitar o processo do bordado. Tive que descolar algumas partes, rasguei algumas fotos e obtive duas partes. Foi um pouco frustrante, mas os processos ocorrem em ordens outras, das quais não temos controle. 
Dediquei principalmente as férias do começo do ano de 2023 para finalizar os bordados, foram tardes quentes no silencio do barracão de artes da Unicentro. Numa dessas tardes recebi a visita do John, que fotografou grande parte das imagens utilizadas neste relato. Um dia choveu tanto que destelhou partes da Universidade, meu coração apertou em imaginar meu trabalho destruído pela água, sem possibilidades de refazer, uma vez que o tempo era pouco e já havia gastado mais do que o esperado. Mas no dia seguinte, consegui ir até a universidade, a Cris foi atenciosa em me falar que quase não havia destelhado nada no nosso bloco, não havia acontecido nada com o meu trabalho. 
Levei de volta para casa, comecei então o processo de finalização dos bordados, após colar novamente as duas partes, deixando as linhas novamente conectadas, e então, a base começou a ser feita. Inicialmente, havia pensado no papel paraná como uma boa alternativa para a base, por ser estruturado, mas assim que comecei a cortar percebi o quão difícil era traçar as linhas com o estilete enquanto rasgava com facilidade partes que deveriam estar estáveis. A raiva me atravessou pela primeira vez neste processo. Aproveitei para deixar o trabalho de lado, esquecido por uns dias. 
Depois, meu pai me levou papelões que eram finos mas estruturados o suficiente, recortei, colei e depois furei suas bordas para passar o fio com o crochê. Neste momento, passei dias a fio produzindo, não apenas pelo prazo, mas por ser necessário um processo continuo, quase ininterrupto para a finalização. Fiz as bordas do trabalho até acabar o novelo que pensei ser suficiente. No dia seguinte, com um novo novelo, fiz o restante da borda e as ramificações, algumas e não muito compridas, uma vez que a intenção era caminhar pela centro de exposições, e esta noção eu só teria depois de suspender meu trabalho. Ao colar as fotos bordadas por cima da base com crochê a emoção foi tanta e me senti satisfeita com o meu trabalho. 
O primeiro dia no qual fui ao centro de artes, uma terça-feira, não pude fazer muita coisa pois não havia uma escada alta o suficiente para chegar ao telhado do centro de exposições, então fiz furos com ilheis, como a minha professora e curadora da exposição, Desirre, havia me sugerido. Fiz pares de furos em bordais que se sobressaiam nos limites da minha topografia, na intenção de passar por elas nylons e suspender em ganchos que eu colocaria no teto. 
Na quinta de manhã fui ao centro de exposições apreensiva, a abertura da exposição aconteceria no dia seguinte e minha obra ainda não havia sido instalada. A escada que havia sido solicitada já estava no local, mas era bamba demais para eu conseguir ficar em cima por tempo suficiente para furar o teto e encaixar os ganchos, frustrada, fui até o armarinho comprar mais um novelo de fio, para continuar as ramificações com a minha peça ainda no chão. Enquanto fazia crochê, conversei com a professora e outros residentes sobre o meu medo que a obra envergasse caso eu suspendesse, uma vez que os papelões remendados não estavam estruturados o suficiente, e como a cola que eu havia utilizado parecia estar descolando, mesmo eu tento comprado outra de silicone e passado nas bordas para dar mais segurança. Ainda assim, preguei as laterais superiores do corredor onde meu trabalho ficaria, seguindo a sugestão de uma das funcionárias do centro de artes, com a ajuda do residente André que estava finalizando seu trabalho. 
Na hora do almoço, meu namorado, John, chegou para almoçarmos e ao escutar minhas inquietações sugeriu fazer uma teia de nylon, fixando suas extremidades na parede e colocar a obra atrás, dessa forma ela não ficaria suspensa pela base de papelão. O processo de uma manhã toda foi resolvido em alguns minutos, me lembrei da frase de Deleuze e Guattari, no livro "O que é filosofia?" (2010), os autores falam sobre como é importante sair da casa, pois quando retornamos à ela, por mais que não tenha mudado, é diferente porque a gente mudou. E apenas me confirmou o pensamento que eu já tinha no inicio deste processo criativo, o de que nenhuma arte é feita sozinha, tampouco apenas no seu período de produção, é sempre uma junção de pessoas e acontecimentos de uma vida toda, que fermentam até que se expandam ao ponto de não mais haver outra forma, a não ser construir-se arte. 
Depois do almoço, imprimi cinco imagens das quais eu usei para construir o território, para utilizar na parte interativa da obra, junto com um cartaz com o QR code de uma pasta no drive, para que as pessoas que participassem pudessem compartilhar suas criações comigo. De volta ao centro de exposições, a residente Karina que também trabalha no centro de exposições, me ensinou o nó de cirurgião e me ajudou a passar o nylon pelos pregos, ganchos e parafusos que eu havia colocado durante a manhã. Depois disso, colocamos uma mesa para eu ter mais estabilidade, outro residente, o Gustavo me ajudou a colocar a obra atrás da teia de nylon e depois passei a tarde crochetando as ramificações e pregando-as nas quatro portas do corredor. Pensei que teria fio e tempo suficiente para tecer ramificações até a porta da casa de exposições, mas consegui apenas descer as ramificações pela lateral de uma das bordas. Depois colei pedaços de ímã, que a Desirre havia me entregado, atrás das fotografias da interação, ela solucionou um dos meus problemas, que eram os papeis das fotografias saírem voando com o vento que passava pelo corredor. 
No dia seguinte aconteceu a abertura da exposição, onde, por eu estar sem o papel do QR-code - uma vez que o que eu havia impresso anteriormente estava muito grande e eu não havia conseguido imprimir outro -  convidei quem estava prestigiando o evento para participar da interação com a obra, alguns resultados eu mesma fotografei, outros foram enviados para mim posteriormente. Depois, minha irmã chegou à exposição com um modelo menor do meu cartaz com o QR-code, o qual eu colei ao final do evento, mas até hoje não tive nenhuma foto adicionada a pasta. 
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