Projeto Ulysses100: Pintura e exposição em comemoração do 1° Bloomsday no Brasil
Aquilo que se lê é aquilo que se é? Aquilo que se vê é aquilo que se é? A miopia, o fluxo de consciência e a voz narrativa confundem o leitor, assim como a sinuosidade do traçado e a gradação de tons confundem o espectador. Em “Proteus”, do livro Ulysses, de James Joyce, o personagem Stephen se movimenta ao longo de uma praia, ao mesmo tempo em que esse caminhar faz com ele se movimente dentro de si. Ele se confronta, se critica e tenta encontrar respostas para suas indagações sobre origens, sobre vida e sobre si próprio. Os acontecimentos se sobrepõem e tudo é simultâneo, o que pode confundir o leitor. Buscando provocar uma sensação semelhante àqueles que vejam o mural, decidimos explorar o fragmentário e a quebra de um realismo fotográfico.
O figurativo e o abstrato se encontram na nossa composição, como uma espécie da miopia de Stephen transposta para a própria composição. As linhas se entrelaçam como se fossem a união dos pensamentos de Stephen e o caminho da praia. Através delas, pretendemos que os espectadores experimentem seus próprios caminhos de apreciação da obra, sem a predominância de figuras pré-determinadas. Se o livro possibilita múltiplas interpretações, por meio do fluxo de consciência, o mural também as possibilitaria. Porém, escolhemos colocar ao centro a forma de uma mão para simbolizar a tentativa de Stephen de agarrar seus objetivos, que escorrem por entre os dedos como a areia da praia.
Voltando ao tema das linhas usadas, explicamos que elas formam um fundo que carrega as peças de um quebra-cabeça que representaria a própria vida de Stephen. As peças, de certa forma, se encaixam, no entanto, estão separadas. Elas são peças sólidas e duras marcando a dificuldade do personagem em definir objetivos. Além disso, simbolizariam os episódios que aparecem no livro.
A composição apresenta tons azulados, terrosos e avermelhados, construindo uma paleta a partir das cores primárias. Optamos por esse esquema de cores para ressaltar a psicologia entre tons frios que remetem à calmaria e à solidão e entre tons quentes que remetem à intensidade e a uma certa violência. Entendemos que essa é a combinação de sentimentos experimentados por Stephen no capítulo. Já os tons terrosos ambientam a cena na praia descrita por James Joyce, fazendo uma alusão à areia da praia. Estes tons fazem, ainda, uma contraposição aos tons azulados, que se referem também ao mar – além de se relacionarem aos pensamentos do personagem.

Trabalho produzido em coautoria com Jade Araújo 
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