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Acre: A Aldeia Shanenawa e a Conexão

CONEXÃO E A ALDEIA SHANENAWA [ACRE]
isso aqui ainda não é um relato, mas sim uma escrita avulsa do meu coração..
Eu tenho muita dificuldade em descrever e principalmente falar sobre algumas vivências logo após terem acontecido, tudo fica um turbilhão extremamente difícil de organizar dentro de mim. Sempre quando me vem em pensamento meu coração aquece, meu corpo pulsa e sinto, sinto, sinto. Sinto tudo forte, intenso e logo me vem um sentimento de paz e a certeza de: "ah, eu vivi o que precisava viver". Várias pessoas vem me perguntando como foi a viagem. Hoje em especial, no meu primeiro almoço em família pós trip eu não consegui contar sobre, a sensação que passei é como se nada tivesse acontecido no Acre, eu não estava pronta pra falar. Chegando em casa pensei: "Preciso começar a externalizar isso dentro de mim, será que eu consigo escolher uma palavra?"
Logo me veio na mente: CONEXÃO.
Mas por que conexão?
No fim da vivência na aldeia, a caminho de Rio Branco sempre ficava um sorrizinho no canto direto da minha boca, a sensação era que eu estava retornando de um sono profundo, daqueles beem gostosos que a gente não quer nem acordar. Nesse tempo, enquanto minha mente ainda divagava sobre a experiência, me veio uma frase que uma pessoa disse por lá: "Esses momentos assim são muito importantes, a gente lembra da gente, parece que a gente se esquece de onde veio e de quem a gente é, né?" Mexeu comigo. A loucura que foi meu 2021 deixou isso bem evidente em mim.. larguei vários prazeres, pensamentos e hábitos. Tudo foi engolido pela rotina e obrigações externas.
Quando decidi ir pra essa vivência eu não estava procurando nada em específico. Algumas pessoas me perguntavam "Acre, Bruna? O que você vai fazer no Acre?" Sendo bem sincera nem eu sabia a resposta, eu também me perguntava isso, a única coisa que sentia é que eu precisava ir pra lá e então eu respondia: "Estou indo para o acre VIVER". Me indaguei sobre isso até o último dia e sempre o que me questionava a única resposta era viver, viver e viver. Apenas viver!
E eu vivi! Vivi muuuito, 3 semanas por lá valeram por 1 ano pra mim, enquanto estava lá peguei meu caderninho pra escrever (frases sem nexo, eu acordava mais cedo e escrevia sem nem saber o que estava saindo no papel). O aprendizado, a sabedoria, os ensinamentos e as trocas que aconteceram ali não foram de apenas 3 semanas nunca. Falando assim parece que é bobo, mas não é, tudo foi muito real e intenso.. o tempo quando você está 100% presente, 100% conectado com quem você realmente é, 100% ali com as pessoas a sua volta, passa diferente. TUDO, absolutamente tudo é melhor aproveitado, até mesmo o famoso "Não fazer nada!" rsrs
Conexão nessa vivência pra mim é uma palavra ramificada. A conexão foi forte comigo, com minha ancestralidade, com meu feminino, com minha alimentação, com meu tempo, com os animais, com a água (eu e a Gabis fomos rainha açude rsrs), com a terra, com o fogo, com as estrelas, com o céu, com a chuva e com todas as pessoas. 



Se destino existe escrito em algum lugar, nesse texto com certeza tem um parágrafo apontando meu encontro com as pessoas desse grupo. Tiveram momentos que algumas delas foram portais para uma força muito superior (divino, posso dizer) me passar mensagens que eu precisava receber. Ahhh, esses momentos receptores aqui nesse plano podem ter durado 5 minutos, mas a mensagem recebida foi de meeeeses de fala. Tiveram pessoas (Mila, Gui e Gab) ali que eu conheci ano passado no Amazonas e lá a conexão já havia sido forte entre a gente. Lembro da gente combinando esse encontro no Acre e mudando vários planos que tínhamos planejado pra fazer o Acre acontecer. Lembro que em Acajatuba/AM sentamos algumas vezes pra discutir sobre esse tipo de conexão/encontro que parecia que já estava escrito, que era fora de nosso controle, forças muito superiores.. louco, não? Tivemos apenas dois encontros nessa vida, mas tenho a sensação que já nos vimos incontáveis vezes. Ai fica o dilema... a nossa teoria pautada no Amazonas faz sentido ou essa sensação se dá por sempre estarmos 100% presentes nos nossos encontros? Pra mim é a soma dos dois!
Tiveram outras pessoas que eu encontrei pela primeira vez ali, mas logo que bati o olho pensei: "Será mesmo que eu já não conheci essa pessoa em outro lugar?" O mais louco foi quando eu toquei alguma dessas pessoas. Durante o toque veio uma viagem de milésimos de segundas na minha cabeça, como se fosse um filme da vida acelerada em 100 vezes. "Sim, eu já conheci essa pessoa".
Tiveram pessoas que a conexão era tão forte que parecíamos iguais. Ate uma criança indígena disse: "Vocês parecem irmãs gêmeas". Essa fala aconteceu em menos de 24h na aldeia, achei loucura, mas os dias foram passando e eu pensei: "Sim, nós poderíamos ser irmãs gêmeas, agora eu espero que essa vida mantenha essa pessoa por perto como se fosse minha irmã".
Tiveram outras pessoas ali que eu tive conversas e me abri de forma que nunca imaginei com ninguém.
Tiveram outras pessoas ali que incrivelmente eu conseguia sentir o que a pessoa estava sentindo, apenas olhando pra ela. Eu achava que eu estava louca, mas quando eu ia conversar com essas pessoas elas colocavam para fora seus sentimentos como se estivessem descrevendo o que estava dentro do meu coração.
Tiveram pessoas ali que já estiveram no meu passado, mas no meu passado de outras vidas.
Tiveram pessoas ali que eu ainda espero encontrar outras vezes.
Tiveram pessoas ali que eu senti que estarão no meu futuro e esse sentimento está cada vez mais tangível. É um aconchego pro meu coração  sentir o meu futuro com o delas.
Todas, absolutamente todas as pessoas ali, ficarão pra sempre com o sentimento de lembrança mais gostosa que eu posso sentir.

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Acre: A Aldeia Shanenawa e a Conexão
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