Este case de UX foi meu trabalho de conclusão de curso da minha graduação de Design pela Esdi/Uerj. O projeto foi orientado por Barbara Szaniecki. O objetivo principal era alertar sobre as consequências do abandono de animais e incentivar a adoção responsável, cuidados com os animais e como ajudar um animal abandonado.

O planejamento utilizado para servir de guia no processo projetual foi elaborado com o auxílio da metodologia de design thinking adotada pela obra de Tim Brown, Design Thinking — Uma Metodologia Poderosa Para Decretar o Fim Das Velhas Ideias e da obra de Maurício Vianna, Design thinking: inovação em negócios. Para solucionar as questões, foi utilizada a metodologia do Double Diamond, que é composto por 4 etapas: imersão, definição, ideação e prototipação.

Para dar início ao processo de imersão, foi decidido entender um pouco mais sobre alguns dados e informações através de uma Desk Research. Alguns dados achados foram interessantes para dar um contexto geral sobre a situação e a relevância sobre o assunto.

Graças ao processo de domesticação, a relação entre o homem e os animais, em especial os cachorros e gato, tem se tornado cada vez mais próxima. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 44,3% dos 65 milhões de domicílios possuem pelo menos um cachorro e 17,7% ao menos um gato.

Os animais ganham cada vez mais espaço nos lares e são considerados como membros da casa. As famílias brasileiras cuidaram de 52 milhões de cães e 45 milhões de crianças. A tendência é que haverá cada vez mais espaço para os animais, pois esta população deve crescer 5% ao ano, enquanto que a de humanos menos de 1%.

Entretanto, mesmo com esse elevado número e com a forte relação entre homem e animal, o número de animais em situação de abandono também é bastante elevado. A Organização Mundial da Saúde estima que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre eles, 10 milhões são gatos e 20 milhões, cães. Em grandes cidades, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados.

Entre os diversos fatores que prejudicam o bem-estar e encurtam a expectativa de vida dos animais de rua estão a subnutrição e uma série de doenças facilitadas pelo ambiente, como aquelas causadas por parasitas, visto que estes animais não recebem as vacinas necessárias para erradicação dessas doenças. Os maus-tratos e os métodos brutais de controle populacional são outros perigos que ameaçam esses animais.

Além da situação de maus tratos e abandono que os animais são submetidos, a superpopulação de animais de rua gera um problema de saúde pública pois aumenta os índices de agressões, poluição ambiental pelos dejetos dos animais e transmissão de zoonoses, que são doenças transmissíveis entre o homem e o animal, como a Raiva. Mais de 15 milhões de pessoas são mordidas por cães infectados todos os anos, causando problemas de longo prazo, como casos de estresse pós-traumático, registrados principalmente em crianças, tendo em vista que de acordo com a OMS, mais de 40% das vítimas dos ataques de cães raivosos têm menos de 15 anos.

Uma pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência e o Instituto Waltham em 2015 pode nos ajudar a compreender o motivo de números tão expressivos relacionados a animais abandonados mesmo com a grande quantidade de lares com algum pet. Dentre as questões apresentadas, é abordado a questão da mudança de endereço por parte dos donos. Foi perguntado se em caso de mudança, eles levariam os animais. A maioria disse que não.

Outra questão da pesquisa era sobre a castração dos animais de estimação. Cerca de 42% dos donos de cães e gatos no Brasil não os castram, sendo esse número maior entre os tutores de cachorros.

O abandono e a superpopulação de animais vêm se tornando um problema de saúde pública que preocupa a todos. Esses problemas são agravados pela falta de esclarecimento das pessoas com relação à responsabilidade envolvida na posse de animal. Esses dados indicam que, apesar de ser uma demanda forte dos brasileiros, ainda existem barreiras no assunto.

Tendo em vista a quantidade evidências, pude encontrar e listar as principais hipóteses e dúvidas sobre ao tema.

- Esse público tem dificuldades em obter informações sobre os cuidados necessários quando se tem um animal de estimação.

- Muitas pessoas adotam um animal de estimação por impulso e/ou apenas por gostar de animais.

- A maioria não tem dimensão dos impactos sociais do abandono animal, porém acham importante a adoção pelo lado sentimental.

- O público gostaria de ajudar a causa animal de alguma forma, porém não sabe como.

Uma importante decisão no decorrer do projeto foi a realização de pesquisas para coleta e análise de dados a fim de compreender o cenário do público alvo. Estar alinhado com o que as pessoas pensam e esperam do assunto é necessário para que o projeto seja usual e empático. Sendo assim, foi criado um questionário na internet convidando pessoas para responder algumas questões sobre o tema da adoção.

Um dos principais motivos era entender o que é pensado quando se fala em abandono de animais, a motivação e a desmotivação na hora de adotar ou acolher um animal abandonado e como os tutores de algum tipo de animal doméstico conseguia informações sobre os cuidados que deveria ter com aquele pet. O questionário foi respondido e analisado com base em 495 respostas.

A partir da pesquisa e da coleta de dados. Houve a necessidade de sintetizar essas amostras e deixar os dados mais próximos do nosso entendimento com o objetivo de encontrar pontos em comum e agir em determinado problemas.

Então para representar o grupo de usuários do público alvo do produto foi criado uma persona agrupando todas as informações relevantes, padrões de comportamento, e suas motivações e frustrações.

Mapa da Empatia é um material utilizado para conhecer melhor o seu cliente. A partir do mapa da empatia é possível detalhar a personalidade do cliente e compreendê-la melhor. O objetivo da criação foi detalhar mais a personalidade e comportamentos do usuário.

Nesta fase, procurei por projetos com temática similar ao deste projeto. Em grande maioria, são ONGs ou grupos de ativistas que trabalham no resgate, tratamento e adoção de animais em situação de abandono.

Para comparar as plataformas analisadas e buscar compreender as diferenças entre elas, foi elaborada uma tabela em que são comparados os seguintes aspectos:

O que é o site/plataforma analisado?

Qual a finalidade dele?

Para quem é?

Através de uma análise competitiva, veremos uma comparação das plataformas em três partes: a usabilidade, ou seja, como se dá a relação de interação entre o usuário e a plataforma; o design visual, como é organizada a estrutura do site, layout, grid, fontes, cores escolhidas; e por fim, a arquitetura de informação, a organização e distribuição do conteúdo do site. Nessa análise, percebemos a dificuldade nos três requisitos que a maioria dos sites apresenta, dificultando a experiência do usuário ao acessar as plataformas.

Tendo em vista o resultado das pesquisas e análise do mercado, chega hora de traçar possíveis caminhos de projeto. Foram selecionados os seguintes pontos a serem explorados: a conscientização sobre os cuidados necessários com os pets, a facilitação da ajuda das pessoas interessadas no assunto (conversa com Ong, lar temporário para animais e adoção.

O incentivo ao engajamento de pessoas nesse assunto, se fez muito presente analisando as entrevistas. Muitos responderam o questionário afirmando que tinham vontade de ajudar de alguma forma, porém não faziam por uma série de motivos. O lar temporário, por exemplo, é importante pois o animal pode ser acolhido enquanto não é adotado definitivamente, fazendo com que as instituições acolhedoras não fiquem sobrecarregadas e grande parte dos entrevistados se mostrou disponível.

Outro ponto importante é com relação aos cuidados dos animais de estimação. Muitos são abandonados pois os donos não possuem preparo suficiente para cuidar de um animal, e quando se deparam com a realidade e as dificuldades acabam desistindo.

Uma reflexão crítica e uma explicação de todas as tarefas e necessidades antes de se adotar um animal e a contínua assistência básica aos tutores evitaria que uma grande parcela de cães e gatos fossem deixados na rua.

Como decisão projetual, foi escolhido o desenvolvimento de um aplicativo que sirva como um espaço onde os usuários podem divulgar animais que necessitam de abrigo temporariamente ou para adoção e também mostrar disponibilidade parar ceder um lar temporário ou adoção. Este espaço tem como objetivo servir como uma opção para Ongs e pessoas físicas se unirem pelo resgate de animais.

Além disso, Esse espaço serviria de incentivo para o aprendizado dos
tutores de animais de estimação através de contéudo, onde ele pode elucidar questões como a importância da vacinação estar sempre em dia, castração, entre outros assuntos que ainda são negligenciados ou mistificados por grande parcela das pessoas que possuem algum pet.

A escolha por um artefato digital deu-se pela facilidade da comunicação entre os envolvidos e grande número de adeptos ao uso de smartphones na faixa etária mostrada na entrevista. Dados do relatório da “2018 Global Digital” mostram que Brasil está entre os três países do mundo no qual a população passa, em média, mais de 9 horas do dia navegando na Internet. E é um dos dois únicos países onde o tempo diário gasto nas redes sociais supera 3 horas e meia. Uma pesquisa realizada pela associação de marketing móvel MMA realizada pela Millward Brown Brasil e NetQuest mostra que m 2016, os brasileiros usaram em média oito apps por semana, contra seis no ano anterior. 83% dos entrevistados afirmaram fazer download de novos programas, e 34% contam com até dez apps em seus aparelhos. Estes dados mostram que cada vez mais as pessoas fazem uso de aplicativos variados em seus smartphones, tornando comum a oportunidade de oferecer um serviço através de um aparelho smartphone.

Para identificar os valores do público com o produto, foi realizado um brainstorming com o intuito de localizar as palavras-chave do tema do projeto que poderiam ser utilizadas no desenvolvimento do nome da marca.

Por fim, o escolhido foi Pethost por ser o que melhor se encaixava com a ideia de lar e hospedagem a um animal e poderia ser entendido mais facilmente sem possibilidade de associar com outro tipo de serviço. Também foi decisão projetual utilizar o termo pet, por ser facilmente reconhecido por quem procura serviços relacionados e atender a todos os animais de estimação sem segregar o serviço somente a cães ou gatos.

Para o projeto de identidade visual da Pethost, foram feitos diversos estudos para encontrar uma forma que transparecesse a intenção da marca e pudesse ser facilmente reconhecido, utilizando o conceito de conexão, lar e possivelmente, a forma do pet.

Entretanto, durante o projeto ocorreu a problemática onde o símbolo da marca se assemelhava muito a imagem de um cachorro, e a marca atuaria também com felinos e roedores. Logo, a representação ficaria limitada e as chances de outro nichos se sentissem excluídos do serviço ou não reconhecessem a sua ligação com marca.

Seguindo o exemplo da Oi e da Oslo Bike City, que possuem marcas interativas, foi elaborada a criação de outros formatos da marca que pudessem interagir com o público específico de determinado nicho de animais de estimação que normalmente são anunciados para adoção ou lares temporários. Foram criados símbolos para cães, gatos e roedores, representados pelo coelho. Essa estratégia também possibilita a expansão para outros nichos de animais de estimação que forem surgindo com a demanda.

Para servir como uma espécie de símbolo “Mãe” da identidade visual, foi escolhido um símbolo que permanecesse a face do animal, e as orelhas tivessem um formato que lembrasse uma casa, porém ao mesmo tempo despertassem a lembrança dos rostos dos animais que fazem parte da identidade visual da Pethost.

A escolha do azul se deve pois normalmente, o azul representa confiança, honestidade e lealdade. Além de mostrar sinceridade, e tranquilidade, o azul também está relacionada com a ideia de ajudante, salvador, o amigo em necessidade, do idealismo e da devoção.

Visto que o principal objetivo do aplicativo é ajudar os animais, a escolha da cor serve para transmitir esse ideal de ajuda e amizade. Além de servir para passar confiança aos usuários que o serviço é de fato uma forma segura de ajudar. A fonte escolhida para este projeto foi a Harabara por ter um peso visual e um desenho um pouco arredondado, acompanhando a característica geométrica e moderna do símbolo da identidade visual.

Entendendo que para o usuário era importante trazer essa facilidade nos fluxos e categorias dentro do aplicativo, foi feito um site map para entender quais as sessões que fariam parte da experiência e analisar como as páginas iriam se relacionar entre si. Os sitemaps nos dão uma visão clara da hierarquia de toda a navegação. Com ele, você consegue ver a amplitude e profundidade da navegação. Confira o resultado logo abaixo:

A primeira parte deste processo, começou a criação dos primeiros esboços, que ajudou a entender os tipos de informações que eram importantes para a plataforma e o que era necessário colocar em cada fluxo. Também foi importante para pensar em como essas informações e sessões caberiam dentro do aplicativo.

A partir disso, foram feitos os wireframes, uma espécie de esboço da página sendo uma versão primitiva do visual e das informações do projeto. Nesse rascunho, são representadas visualmente a diagramação e suas estruturas macro. As telas foram feitas apenas com a intenção de servir como um norte para prosseguir com a evolução do projeto.

Com base nos wireframes, eu criei um protótipo navegável e idealizei um roteiro com tarefas para confirmar algumas funcionalidades da plataforma e verificar se algo precisava ser melhorado. Foram chamadas 4 pessoas para o teste.

Cada usuário precisou passar pelas páginas iniciais simulando a primeira vez que estava entrando na plataforma, procurar um pet de sua preferência, ver o perfil e enviar mensagem para a pessoa ou organização responsável. Também foi pedido que os entrevistados buscassem as notícias publicadas pelo portal e adicionassem um animal na plataforma.

Foi feito um roteiro com o passo a passo do teste e as recomendações para os usuários durante o teste foram:

1) Executar uma tarefa por vez.

2) Relatar o que encontrou dificuldade, o que foi simples e outros comentários que achar necessário.

Com as observações do teste, foram feitas algumas substituições. Os entrevistados tiveram dificuldade em assimilar onde clicar para adicionar um animal, e para solucionar isso, adicionei a opção logo no início da home. Os usuários também não gostaram da forma que era feita a adição de um animal na plataforma, pois era necessário escrever no formulário. Uma forma de solucionar isso foi adicionar algumas opções clicáveis e, deixar as opções de escrita para tópicos necessários.

Na página de perfil, tanto do animal quanto do usuário, eles relataram que havia também muito espaço de leitura. Este problema foi resolvido com o uso de bullets e buttons para determinadas informações. Depois dos insights dos testes, o wireframe ficou dessa forma:

A ideia para o visual do site era ter características sóbrias, junto com o azul da marca. Os ícones principais para identificação das principais sessões seguiram o logo da marca e suas variações conforme o animal e assuntos globais.

Além disso, a cor azul da marca serviu para marcar aspectos importantes e dar contraste com o restante do layout. Resolvi não colocar muitas outras cores porque as próprias imagens dos animais que deveriam ser o foco central do aplicativo e adicionar mais cor poderia trazer uma confusão visual.

Para o texto, eu escolhi a fonte IBM Plex Sans, um tipo de letra de estilo grotesco neutro, mas amigável. É uma fonte com excelente leiturabilidade em diversas plataformas e possui uma grande variedade de tamanhos e formas. Usei basicamente o corpo bold e o regular, a variedade estilos ajudou a construir a hierarquia visual da plataforma. Foi utilizado algumas ilustrações em momentos específicos da plataforma, como no banner para adicionar um pet e em outros passos de confirmação.

Após aplicar todo o visual design no aplicativo, fiz um protótipo navegável através do Adobe XD. O protótipo pode ser acessado através do link:

https://xd.adobe.com/view/b61c18f1-e707-44f8-a6f2-ca54522d1c14-e34f/?fullscreen